Um dos marcos da padronização da produção da cerveja é o Reinheitsgebot, o código de pureza promulgado pelo duque Guilherme IV da Bavária em 23 de abril de 1516. A lei proibiu o uso de qualquer cereal, erva ou tempero que não fossem malte de cevada, lúpulo e água no preparo de cervejas. A proibição, no entanto, só valia para as cervejarias comerciais da época. “O duque e seus companheiros estavam livres para usar o que eles quisessem”, diz Hornsey.
De qualquer forma, a lei da Bavária pegou e foi aplicada em todo o território alemão depois da unificação do país, no século 19. Atualmente, ela vale como regra para a maioria das fábricas européias que buscam um produto de qualidade internacional (a exceção são as cervejas de alta fermentação, tradicionais na Alemanha, que utilizam o malte de trigo).
O maior mérito do Reinheitsgebot foi combater a falsificação da bebida, que se tornara uma praga na Europa no século 15. Em 1492, o rei inglês Henrique VII criou uma carta de recomendação para os fabricantes honestos, que facilitava a exportação do produto para outros países. Na mesma época, e discretamente, os cervejeiros começaram a incentivar o consumo da bebida fora dos bares. Como na época ainda não haviam sido inventadas as eficientes campanhas publicitárias com muitas mulheres em poucas roupas exibindo seus atributos em outdoors e propagandas de TV, a criação da cerveja engarrafada foi uma mão na roda.
Não se sabe ao certo quem teve a idéia, mas os diários de Alexander Nowell, sacerdote-chefe da Catedral de São Paulo, em Londres, de 1560 a 1602, já mencionam a existência da cerveja em garrafas de vidro. Antes disso, os recipientes eram barris de carvalho ou vasilhames de couro. Nowell descobriu, em 1602, que a bebida durava mais se as garrafas estivessem lacradas com rolhas de cortiça. O novo formato permitia que a cerveja fosse levada para casa, mas foi apenas em 1882 que os fabricantes notaram que a loirinha azedava nas garrafas claras e adotaram o vidro escuro, que impede a passagem da luz e garante a integridade do produto por mais tempo.
Mas e as cervejas modernas vendidas em garrafas transparentes? O jornalista austríaco Conrad Seidl, autor de O Catecismo da Cerveja, conta que hoje se adiciona óxido de magnésio ao lúpulo para proteger a cerveja dos raios ultravioleta. A substância não altera o gosto e o vidro claro permite que o potencial bebedor admire o tantas vezes irresistível amarelo da bebida. “As garrafas transparentes são mais um golpe de marketing, não influenciando em nada o gosto da bebida”, afirma Seidl.
Quando a revolução industrial tomou o mundo no século 19, diversos países já tinham as suas próprias cervejas típicas. A Alemanha era o lar das claras Dortmunder (amarga e picante) e Weissbier (leve e ácida) e das escuras München (leve e picante), Bock (forte e encorpada) e Malzbier (doce). Os checos inventaram a Pilsen (leve e encorpada). Na Inglaterra, os súditos bebiam a clara Ale (frutada) e as escuras Stout (doce e amarga) e Porter (doce e forte). Mas o pontapé inicial para a fabricação em grande escala veio dos Estados Unidos, que há 300 anos desenvolviam sua indústria nacional. A refrigeração (1860), a pasteurização (1876), a tampinha de metal (1892) e o aperfeiçoamento da filtragem popularizaram a cerveja engarrafada, que agora podia ser produzida e vendida em grandes quantidades.
Para abalar de vez os hábitos dos consumidores, a fábrica americana Kreger, de Newark, lançou a primeira cerveja em lata de estanho que, no lugar do lacre – inventado em 1965 – tinha uma tampinha de metal igual à das garrafas de vidro. A latinha de alumínio foi adotada pela também americana Coors em 1959 e demorou mais 30 anos para aparecer no Brasil. A novidade mais recente, cervejas em garrafas plásticas, aportou nos supermercados daqui nos anos 90, mas ainda não caiu no gosto dos bebedores.
Fonte: Adaptado de Superinteressante